Mais um mês, mais um post em parceria com o projeto "A Cultura Mora Aqui" e este mês o tema é TECNOLOGIA.
Querem ler o meu texto com este tema? Então vamos lá, espero que gostem!
Nunca acreditei em mim, confesso.
Nunca acreditei que eu, Olívia, diagnosticada com Asperger, que me impede de socializar de forma comum, fosse merecedora de um amor, ou que, por alguma razão, nenhum homem se apaixonasse por mim.
Eu que sei falar, mas o meu sempre decidiu que escrever era sempre a melhor solução, sempre pensei: Quem quer amar alguém que mal se aproxima de nós? Que não nos fala inteiramente?
Foi então que me consciencializei que, como qualquer ser humano, eu Olívia, de quarenta anos, também sou merecedora de um amor para a toda a vida.
Decidi deixar de me esconder atrás da minha síndrome e aderi à maior plataforma social do mundo – o Facebook.
Eu sei que muita gente pensa mal desta plataforma, mas, se tirarmos bom partido dela, é um lugar inspirador onde podemos espalhar a amizade e o amor. As pessoas é que fazem os lugares e muitas das que pisam o mundo espalham ódio e falsos testemunhos. Porém, acredito que pessoas como eu, boas, ainda existem. Por isso, insisti em obrigar-me a entrar neste grande mundo, a conhecer novas pessoas.
Acham idiota que alguém possa encontrar o amor nas redes sociais? Alguém sem segundas intenções? Alguém verdadeiro?
Eu acredito.
Foi no Facebook que conheci o Gonçalo, um homem que, tal como eu, partilhava o mesmo gosto pela literatura e cinema.
Trocávamos mensagens sobre Fernando Pessoa e Steven Spielberg, sobre o “Principezinho” de Exupéry e sobre Gabriel Garcia Marquez.
Entre opiniões e críticas, a nossa amizade aumentou de dia para dia.
O dia que eu temia tinha chegado, em que eu lhe tinha de dizer que, apesar de ser inteligente, eu não sabia muito bem socializar com as pessoas como socializava com ele através da internet. Felizmente as redes sociais e as novas tecnologias são uma mais-valia para nós, pessoas com alguma síndrome, mas eu não era a mesma pessoa ao vivo, não aquela que falava com ele por palavras escritas tão naturalmente.
- Tenho de te contar uma verdade sobre mim. – disse-lhe eu.
- Força. – disse-me ele.
- Tenho síndrome de Asperger, não sei se sabes o que é…
- Sei sim. E olha, também tenho uma verdade sobre mim para te contar.
- Diz.
- Sempre tive vergonha de dizer-te. Sofro de paralisia cerebral ligeira.
Sorri. Afinal, tal como eu, ele também guardava segredos com medo da rejeição. O que é uma verdade triste, pois nenhuma pessoa devia esconder-se, nenhuma pessoa devia sentir rejeição por ser diferente.
Através das redes sociais, conheci uma pessoa maravilhosa. Através do Facebook, conheci o meu melhor amigo, o meu amor, o meu companheiro.
Há simplicidade em nós, há verdade, e isso merece o maior respeito do mundo.
São as pessoas que criam a sociedade, são as pessoas que trazem aos lugares o lado mais feio do mundo, porque, tal como eu comecei a acreditar no amor e na minha capacidade de amar, acreditei que as redes sociais têm o seu lado (muito) bom, que a tecnologia é necessária no nosso dia-a-dia, precisamos de saber, tal como no lado feio das relações, em saber como fazer uso com conta, peso e medida.
E o meu amor é assim, tal como as novas tecnologias, um mundo a descobrir!
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Sobre o projeto A Cultura Mora Aqui
Criado pela Ju, do blog Cor Sem Fim, o projeto A Cultura Mora Aqui - ou ACMA, para abreviar - tenciona, tal como tenho vindo a referir nos meses anteriores, trazer a cultura de volta à internet com temas mensais ou bimestrais. Para participarem, só têm de enviar um e-mail com os vossos dados para acma.cultura@gmail.com - aproveito para repetir que não vamos falar sobre outfits, maquilhagem, moda, etc, e que qualquer um de vós pode participar, não sendo obrigatório fazê-lo todos os meses. Para não perderem nenhum post, já podem seguir a página do ACMA no facebook e a Revista.