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Gesto, Olhar e Sorriso

Palavras que têm vida.

09
Mar18

[Parte 3] Espera por mim, meu amor

Carolina Cruz

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Eu não passava de um homem de rua que empobreceu por destino e escolha, pedia, dormia ao relento, até ao dia em que um braço amigo me curou da gripe.
Era inverno, tossia até doerem-me os ossos, ficara sem ar e desmaiara. Não me lembro de mais nada antes de acordar no hospital com um rosto que conhecera em tempos. Esfreguei os olhos, limpei a neblina, estaria a sonhar?
Nos meus olhos turvos, vi os teus olhos azuis, tão doces. Não reconheceste este imundo homem que fui e eu, de lágrimas a correrem-me pelo rosto, consegui proferir:
- Esperança?
- Tem de ter. – disseste inocentemente. Era impossível conheceres um homem como eu. 
Devias ter a vida feita, uma família bonita, filhos bem-educados. 
Tive vontade de chorar ainda mais…
- É a minha Esperança, de olhos azuis. 
Não sabia como dizer-te, não sabia se ainda te lembravas de mim. Oh meu amor! Comecei quase a declamar para perceberes o quanto ainda vivias cá dentro.
- No Alentejo sem destino, cruzei-me contigo Esperança, era amor eu já sabia, desde que eras criança e eu um jovem. Os teus olhos azuis, a tua pele morena nesses longos cabelos loiros continuam com a mesma juventude, eu sou apenas um Américo que se tornou num Zé Ninguém.
Olhei-te nos olhos e choravas, choraste rios e mares e genuinamente, como duas crianças que não se importam com qualquer diferença social, abraçaste-me e aqueceste-me o coração.

 

 

(continua...)

08
Mar18

[Parte 2] Espera por mim, meu amor

Carolina Cruz

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Veio a revolução e a chegada ao meu país, cantava-se “Vila Morena” de Zeca Afonso e todos achavam que seriamos livres. Mas eu… eu nunca mais seria livre dessa saudade de ti, perdera as minhas ligações ao Alentejo, perdera todas as ligações da minha vida, até a minha própria vida. 
Achei que seria um homem forte, mas nenhum homem é forte o suficiente para aguentar acabar com a vida de tanta gente e não acabar com a sua. Eu não era o mesmo, não era o mesmo que te beijava a testa quando me davas pontapés, não era o rapaz que sorria ao ver-te ler um livro, não era o mesmo, tinha trinta anos, mas um medo de criança, uma vida de oitenta, uma vontade de nascer de novo, mas que nascesses comigo.
Se eu não te tivesse comigo, se eu não conseguisse mudar, eu não queria viver. 
Porém a vida tem sempre maneira de nos fazer renascer, de nos surpreender, de nos enviar uma mensagem “espero por ti, espero que dês o teu melhor”.

 

(continua...)

07
Mar18

[Parte 1] Espera por mim, meu amor

Carolina Cruz

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Olho as minhas mãos que acabaram de desapegar as tuas. 
“Que amor brilhante foi o nosso, meu amor” – digo-te mas já não me ouves, talvez num lugar longínquo onde a tua alma pousa, poderás ouvir-me. 
Olho as rugas que perduram ainda no teu rosto a dormir para sempre. Olho-as e emociono-me: foi mesmo um amor para a vida toda, não somente na promessa ou no papel, mas no sentimento que não esmoreceu nem um pouco. 
Olho para ti e recordo que te conheço desde que eras aquela criança de tranças loiras e longas e eu um rapaz que já te amava. 
O Alentejo era o palco da nossa infância, seis anos nos separavam, mas eu já te amava tanto. Como pudera eu não te amar? O teu sorriso, a tua sabedoria, a tua juventude inquieta. 
Obrigaram-me a partir quando completaste catorze anos. Achei que nunca mais te veria, meu amor. 
Alistei-me na guerra do Ultramar e não sabia se sairia vivo, ou mesmo que vivesse, receava que não quisesses saber mais de mim. 
Todas as dores que, na pior altura da minha vida, vivi, não as desejo a ninguém. Apenas te escrevi uma carta, meu amor, aquela que guardaste, com saudade, no bolso da tua saia às pregas. 
Corpos mortos, almas desfeitas e uma saudade imensa do futuro, do teu corpo nu que nunca havia visto, dos teus seios que nunca havia tocado e do teu doce beijo que nunca saboreara. Tinha medo de perder a vida, porque tinha medo de perder-te, de morrer sem te tocar.

 

(continua...)

06
Mar18

[Ficção] Dói demais.

Carolina Cruz

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Dói.
Dói demais conceber a ideia de que os teus braços abraçam outra pessoa.
Dói demais pensar que a proteges exatamente com a mesma dedicação ou até mesmo com um amor maior.
Eu sei, que não havia quase nada em nós que resultasse, porém da minha parte (pelo menos) ainda havia amor.
E é tão doloroso esse amor que sabes que não tem continuidade. É tão doloroso amar e saber que há um fim. E pior que haver esse fim, é saber que agora moras noutro lar, que outra mulher é o teu porto de abrigo, que eu nada mais sou além do (teu) passado.
Dói, dói demais.
Só queria fechar os olhos, voltar atrás no tempo, querer-te e ter-te do meu lado.
Posso apenas sonhar. 
Pois, nada em nós há-de voltar.

05
Mar18

[Cinema] Até aos ossos

Carolina Cruz

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"Até aos ossos" é mais uma criação estupenda do Netflix. Um filme original com Lily Collins como protagonista brilhante e poderosa.
Este filme aborda um tema, infelizmente, muito comum nos nossos dias - a anorexia. 
Ellen é anorética e vê a sua doença cada vez mais avançada, quem a rodeia está completamente alarmada, mas Ellen não tem esperanças de melhorar até encontrar um médico pouco convencional que a procura ajudar.
Esta passa a fazer parte de um grupo e a viver com outras pessoas que vivem com o mesmo tipo de doenças e é aqui que a sua vida parece mudar. Surgem novas amizade, uma muito especial. Porém, Ellen, não sabe lidar muito bem com os seus sentimentos e isso não a ajuda a melhorar o ambiente que a rodeia. Conseguirá Ellen mudar como se sente? Vencer os seus medos e fantasmas mais dolorosos? A sua doença?
Aconselho-vos vivamente a verem este filme. 
É um filme que nos faz pensar e refletir sobre a nossa autoestima, sobre o nosso valor e amor-próprio que é tão importante para darmos também importância à vida.

 

 

04
Mar18

[Séries] The End of the F***ing World

Carolina Cruz

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"The End of the F***ing World" uma série original do Netflix, que fala de dois jovens pouco ou nada sociáveis, que se conhecem e mudam o mundo um do outro através de uma parceria infinita e leal e os acontecimentos de ação e dramáticos (sem querer entrar em spoilers) vão ligá-los para sempre.
Cada episódio tem pouco mais de 18 minutos e é para quem gosta de suspense (como eu) vê-se bem em um ou dois dias, tendo em conta que tem apenas uma temporada e oito episódios.
Eu vi tudo em poucos dias (creio que em dois!), mas no primeiro episódio fiquei "wtf? Que é isto?", nos seguintes não melhorou, achava um pouco idiota e que as personagens eram demasiado exageradas. Porém, e é isto que vos quero dizer, não consegui largar a série e via até ao fim... o suspense continuava e os finais constantemente abertos faziam-me continuar, tanto que adorei. 
E perguntam vocês? Mas não tinhas dito que não gostaste? 
Exatamente isso, não sei definir este amor-ódio por esta série, porque realmente achei idiota, mas adorei e aconselho a quem gosta de suspense e adrenalina! Ah e a banda sonora é fantástica!
Conseguem-me perceber? Quem já viu?

 

 

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