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Gesto, Olhar e Sorriso

Palavras que têm vida.

21
Dez16

[Completas-me] com a Marina

Carolina Cruz

É com todo o prazer que hoje trago a simpática Marina, do blog "O olhar da Marina" para comigo contar uma história sobre amor verdadeiro. Espero que gostem do texto tanto como eu gosto da Marina (ainda não visitaram o blog? Tratem disso!).
Aqui vai o nosso texto a duas mãos. 

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“Ele olhou para mim e de repente o meu sorriso desapareceu pois eu notava que aquele olhar estava cheio de perguntas, cheio de sentimentos, ele parou nesse instante analisando o meu rosto e eu virei a cara para ele não perceber, reagindo friamente.
Ele aproximou-se de mim como que em câmara lenta “porque é que não o viste antes assim?! agora tudo está perdido, não vale a pena”, e sem querer uma lágrima escorreu me pelo rosto.
Ele olhando me nos olhos acariciou-me o rosto limpando a lágrima que me caia, eu baixei a cabeça e ele gentilmente pegou no meu queixo com suavidade e aproximando-se de mim beijou-me lentamente os lábios, quase que podia sentir a minha cabeça a explodir de tanta paixão, sentimentos escondidos e reservados que naquele momento
ganharam vida.
O beijo foi cada vez mais ganhando vida, e passou de um beijo lento e suave a um beijo mais desesperado e intenso. Eu correspondia, pois nesse momento ambos descobrimos que apesar de todos os obstáculos, apesar de tantos erros, apesar de a vida por vezes querer que nos afastássemos, nós estávamos completamente apaixonados e nada poderia nos separar naquele momento, porém…” ainda eramos o típico casal “Romeu e Julieta”, ainda que apaixonados e jurando amor eterno, tínhamos de o fazer em segredo, porque se o meu pai descobrisse e o dele estávamos bem lixados, tínhamos de, tal como num filme, morrer por amor.
- Receio perder-te de novo. – Disse-lhe.
- Isso não vai acontecer, não agora, nunca! – Respondeu-me. – Se eu tiver de dizer ao mundo que te amo, nada me poderá impedir de o fazer, nem os nossos pais.
Júlio era indiano, e fugira ao seu casamento prometido pela sua cultura e eu, portuguesa de gema, de uma família endinheirada, devia estar casada com um empresário ou um médico de eleição, mas não, em plenos 34 anos permaneço aqui, a escolher o amor, mesmo depois de todas vezes em que neguei a mim mesma, gostar de alguém como ele. Como ele? O que ele tinha a menos que um médico de sucesso? Talvez dinheiro, mas isso não era nada comparado com as horas de amor a mais que podia ter comigo, do tempo que dispensaria a amar-me e não a ter-me como apenas mais uma medalha na sua vida tão conceituada. Não, mesmo que me dissessem que morreria se escolhesse com ele ficar, eu continuava a querê-lo, sem sombra de dúvidas. Mas eu não iria morrer. Eu iria amar o homem a quem prometi, sem saber outrora, anos da minha vida e, então, sendo amor, amor verdadeiro, essa força sobre-humana, ninguém podia (de)terminá-lo, nem mesmo a morte.
Por isso após recear, recomecei uma nova vida fora da minha zona de conforto, a zona de outrora, porque junto de quem menos julgaram estar junta o meu conforto renasceu e, hoje eu sei ver no amor, o caminho para a felicidade.

 

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30
Nov16

[Completas-me] Com a Liz

Carolina Cruz

Hoje trago comigo, para uma escrita a duas mãos, a simpática Liz. Se não sabem quem é a Liz, acho que deviam tratar disso, porque é um amorzinho, das pessoas mais simpáticas que eu conheço pela blogosfera. Tratem de espreitar o seu cantinho "find equilibrium".
Quanto à história que nos apresenta é mesmo a sua forma de ser - doce - vamos conhecer? 'Bora lá então!

 

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"Hoje a cidade estava movimentada. Era dia de mercado pelas ruas e avenidas até ao final da noite. A minha rotina não tinha mudado muito, acordo, corro para o banho e tirei do guarda-roupa um vestido branco com florzinhas azuis, tomo o meu belíssimo pequeno-almoço de domingo e coloco Etta James no aparelho.
Não sei porquê, hoje em especial sentia-me bem. A minha alma estava fresca, o cabelo leve e apetecia-me abraçar o mundo. Estava indecisa o que iria fazer hoje. Arrumei a mala, coloquei a máquina fotográfica na mala, iPod e os fones. Telefonei a uma amiga e ainda demorou a atender. Só apenas à terceira tentativa reforcei que estava a precisar de sair de casa e divertir-me com ela.  
Fomos ao jardim secreto perto do rio, apanhamos rãs e vimos as libélulas a pousar nos arbustos. Saquei logo a máquina fotográfica e deixei a imaginação fluir. O sorriso e a boa disposição da minha amiga é contagiante, colocou ideias divertidas, nela, em mim, no espaço onde nos encontramos. A sensação desta companhia é tornar os momentos inesquecíveis, saber que nunca estamos e nem podemos nos sentir sozinhos na vida
O almoço foi delicioso, as fantásticas sanduiches, o sumo natural de manga e maracujá e o cheesecake de framboesa estava genial. Nunca saboreei desta maneira, cada toque amargo, doce, salgado e consistente de uma trinca. Vi o tempo passar fugazmente e a minha amiga teve que me abandonar e com muita pena minha, fui ao mercado sozinha.
Direcionei-me para os CD’s e livros. Estava pouca gente naquela banca, embora achasse estranho, podia estar a descobrir novos e antigos artigos à vontade. Os preços eram convidativos e Beatles estavam a olhar para mim. Num movimento rápido, virei-me para ir pagar e vejo um homem alto, moreno, vestido de branco e ganga e veio contra mim. As clavículas era familiares, a estrutura do rosto e o olhar. Reencontrei um amor perdido.
Cumprimentou-me, e eu envergonhada retribui com um beijo na cara. Foi o beijo mais singular que já lhe dei, as bocas já se encontraram mas não vejo voltar a acontecer. Insistiu em saber como estava, ofereceu-me o CD e um convite para um café. Já desesperava por um café mas com ele, não sabia como me sentir.
As pernas tremiam, estava ansiosa e gaguejava nas palavras. Ele punha-me nervosa, depois de um ano desencontrado. Nunca mais o procurei. Abandonou-me com um bilhete, fiquei magoada e houve alturas que me revoltava com os meus pensamentos. Não sabia o porquê mas também não tencionava tocar no assunto. A conversa estava simpática e não queria estragar tudo. Acabou o mestrado recentemente em Economia e Administração de Empresas, mudou de cidade, tem um novo projeto que ainda não quis contar e encontrava-se numas mini férias.
Já estava a anoitecer e as luzes pequeninas e brancas iluminaram o mercado, pareciam estrelas maiores que se encontravam por cima de nós, como um céu mais próximo. Caminhávamos enquanto conversávamos e eu gostei disso, fez-me recordar os momentos que vivemos juntos. Ele pára, coloca-se à minha frente, e eu bem mais pequena que ele, olhava para os olhos dele..."

 

E não resistimos de novo, um ao outro, como da primeira vez. Os seus ombros largos abraçavam o meu pequeno e esguio tronco. Abraçá-lo foi respirar os velhos tempos e beijá-lo foi acreditar que todos nós podemos perdoar o nosso passado.
- Desculpa. – Disse-lhe.
Ele sorriu.
- Não precisas de te desculpar. Eu também o quis. Posso ter tido muitos problemas naquela altura, posso ter sido uma besta, posso não ter querido ter-te desta forma, esquivei-me aos sentimentos mais sérios e feri os teus. Mas movi mundos e fundos para te reencontrar, aquele encontrão foi uma desculpa para te voltar a ter nos meus braços. Danças?
- Aqui, na rua? 
- Porque não? Esqueceste-te como olhávamos o céu e imaginávamos todas as estrelas como se fossem o brilhar de uma pista?

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- Como memória dos velhos tempos… Aceito. – E sorri. O meu sorriso reviveu tudo de outrora, como se eu tivesse entrado numa máquina do tempo.
Encostei a minha cara ao seu ombro e uma lágrima escorreu-me pelo rosto. Não contive emocionar-me, mesmo sem querer, mesmo sem saber como, aceitei-o de volta, ele colou todos os pedacinhos partidos do meu coração.
Ambos errámos, fomos incorretos um com o outro, mas hoje, hoje se tornou certo e certeza. Não havia tempo, não havia memória, não havia mundo lá fora. Apenas o nosso, apenas nós dois, de novo, um com o outro, um para outro.
Ficámos em silêncio, como se esse silêncio dissesse tudo.
- É acreditável como sempre soube que eras a mulher da minha vida. – Disse ele, por fim, pude olhá-lo nos olhos, nos seus olhos que também choravam, esses olhos que perdoei por amar tanto. – Eu cresci, hoje sei tomar conta das minhas responsabilidades. Saberei tomar conta desse sorriso também.
Olhei para a minha vida de trás para a frente, olhei para aquela manhã de sorriso posto ao acordar, decerto era o meu coração a imaginar este fim de dia, esta história de amor, este começo de uma nova etapa.
E sim, esqueçam essa parte do “viveram felizes para sempre”, porque histórias de amor verdadeiro nunca terminam.

16
Nov16

[Completas-me] Com a RP

Carolina Cruz

Hoje o "Completas-me" está de volta! Finalmente! - devem dizer vocês. É verdade, mas como disse no facebook, eu não gosto de fazer as coisas à pressa, mas sim dedicar-me de todo o coração àquilo que abraço. E esta rúbrica, como todas as outras, merece a minha perfeição, e como ela não existe, eu procuro dar o meu melhor. 
Hoje trago-vos a minha querida e simpática RP para um texto sobre quebra de monotonia e mudanças. E é engraçado que esta história fez-me sonhar que estava num avião com ela, não é curioso? :D

Vamos ler? Espero que gostem desta história escrita a duas mãos!

 

"Agora que o avião colocou as rodas no chão é que caí em mim. O meu estômago embrulha-se, tal é a minha ansiedade. Constato, agora que estou mais lúcida, que pouco me falta para ter um ataque de pânico. Mas onde é que estava com a cabeça? Como fui capaz de largar toda uma vida? Uma bagagem? Os amigos? A família? Os meus pais choraram tanto. Disseram que todos temos segundas oportunidades. Que fugir não é solução, nunca é! Não concordo. Acho que a pior das hipóteses era ficar. Voltar aos mesmos lugares, ver as mesmas pessoas. A cabeça quente achei que sair do país era o ideal. Mas não para a Europa já com um emprego e uma casa garantidos para os tempos de adaptação. Conheceria alguém. Isso resultaria em familiaridade, em questões, em voltar ao mesmo. Não queria isso. Tudo menos isso... Talvez o meu pânico se deva a sair da zona de conforto. Ao facto de não conhecer ninguém a quem recorrer, a não conhecer o lugar. Ou a ambos. Que raios! Lancei-me de cabeça. Nem sequer o idioma sei. Não tenho emprego. E se não arranjar? Não tenho conta bancária para uma estadia demasiado longa.   As portas do avião abriram. Nem sequer sei onde é a saída do aeroporto. Sigo a multidão. Faço neste momento parte do rebanho. Eu que sempre fui contra isso, que sempre me revoltei com as imposições. Aliás agora que penso nisso lembro-me das pessoas que tanto dececionei. Os meus pais que sempre batalharam para me darem uma vida estável. E cujas regras sempre me obstinei a cumprir. Os meus amigos que sempre me deram um apoio e conselhos e eu largo-os. O meu cão, até ele que tanto gosto dececionei ao não o trazer comigo. Todas as relações falhadas que tive. Não culpo nenhum deles. Culpo a minha pessoa, a insatisfação crónica, o só querer estar onde não estou... Eu fui a pessoa mais dececionante que lhes poderia passar na vida. E nenhum deles merece. Estão táxis à porta. Rabisco o nome do centro da cidade e mostro ao taxista que acena com a cabeça como quem diz que entendeu. Olho pela janela e reparo em como tudo é tão novo, o que me entusiasma, e tão estranho, o que me aterroriza ainda mais. O taxista deve ter reparado na minha cara porque o ouço a dizer com um sorriso encorajador: "No worries miss. It's safe!" Deve pensar que o facto de já terem sido alvos de terrorismo me amedronta. Como se isso não acontecesse cada vez mais na Europa. Olho para ele e devolvo o sorriso. Tenho mais medo da minha pessoa para ser sincera. Deixa-me no centro, pago e agradeço com a melhor pronúncia que consigo arranjar. Olho à minha volta. Toda a gente passa, todos se conhecem, todos parecem seguros para onde vão, todos estão no seu mundo, ninguém repara em mim. A pergunta que me assola é: "E agora? Para onde?".

 

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Sinto-me perdida, mas já que tomei esta decisão, não posso tornar-me mais cruel comigo mesma. Sei que ainda guardo os últimos tostões e se conseguir ainda me dão para alguns dias, mas não muitos. Trago a guitarra comigo. Faz tanto frio, estou encasacada como uma esquimó. Pareço uma idiota. Decerto haverá por aqui pousadas baratas. “Caramba” – penso – “Nova Iorque é um mundo e eu sou uma formiga em cada rua que passo”. Estou enganada, aqui ninguém se conhece, como vou eu conhecer alguém? Merda. Todos os pequenos seres são formigas que olham para o seu umbigo. Ainda agora cheguei e sinto-me impaciente, não quero isto, mas também não quero ceder aos meus medos. Creio que também eu olhei apenas pelo meu umbigo, e quando julgava que perdia o mundo, por perdê-lo a ele, por estupidez minha, perdi na verdade todos os que tinha à minha volta. Como voltar atrás? Como fazer diferente?
Agora não posso, e para me deixar de consciência tranquila vou fazer o melhor por mim. Se a vida me desse uma segunda oportunidade para amar eu seria a pessoa mais recompensada do mundo e então todos os meus fantasmas partiriam, mas a vida não é como nos filmes.
No exato momento em que pensava nisto, um rosto simpático mergulhado na penumbra veio falar-me… A sua mão pousara no meu ombro.
Com um português misturado num inglês dito a medo, perguntou-me onde podia jantar em conta, sem que precisasse de pagar muito.
Soltei uma gargalhada, não que tivesse piada, mas por instantes não me senti só.
- Eu falo português. – Disse eu depois de parar de rir.
- Uff. – Disse ele soltando um suspiro simpático, acabando por sorrir. – David. – Disse-me, apresentando e estendendo a mão ao mesmo tempo que me oferecia de novo um sorriso. Tinha uns olhos verdes quase da cor de lima e um olhar sonhador.
- Sofia. – Disse, retribuindo o aperto de mão.
Naquele instante em que ele me olhou, eu podia imaginar que tinha acreditado no amor à primeira vista e que o meu coração voltou a sonhar, mas não quis levantar falso alarme. Sim, estava cansada de falsos alarmes, de trair os outros como fiz com ele e comigo também.
- Felizmente não estou sozinha nisto. – Acabei por dizer.
- Quer ir a algum lado? Vamos procurar juntos algum lugar para jantar?
- Se me tratar por tu. Devemos ter a mesma idade.
Curiosamente tínhamos, a mesma idade, os meus gostos, as mesmas vontades, por incrível que pareça – os mesmos escapes.
Dividimos o maço de cigarros que ainda me restava e conversámos sobre tantas e variadas coisas pela noite fora, que parecia que o conhecia há mais de mil anos.
Ele tinha chegado há uns dois dias e andava tão perdido quanto eu, vinha de uma viagem pela Europa, em busca de mudança, vinha com intenções de mudar de vida e gastar pouco, aprender com o mundo, tal como eu fugia à monotonia, mas não me dissera quaisquer razões para a quebrar. O tempo encarregar-se-ia de mo dizer. Eu apenas desejava esse tempo para o conhecer melhor.
- O que pretendes? Ficar?
- Se tiver motivos. Porque não?
Por momentos, na minha inocência parva, sempre a chamar o coração, tive vontade de ser eu esse motivo, mas fantasia-lo, era, por si só, ridículo. Desde que partira naquele avião sentia-me uma louca à deriva, mas encontrar David foi, na verdade, o melhor que me podia ter acontecido.
Porque tempos mais tarde encontrámos razão um no outro para ficar, para ser, para estar. Ele concordou que eu devia fazer as pazes com o meu passado, pedir-me desculpa e depois fazer o mesmo com quem magoei.
Uma amizade verdadeira nasceu entre nós. Ele também era músico amador, mas juntos tomámos a música como opção, começando a tocar juntos nas ruelas, nas ruas mais movimentados, nos metros.
A primeira vez foi por brincadeira e, ao ver que fazíamos sucesso, a brincadeira tornou-se algo mais sério, um sonho, uma mudança no mundo, dos outros e do nosso.
Um ano mais tarde, fomos desafiados por uma discográfica, dividíamos um apartamento minúsculo sem nada haver entre nós, além da amizade profunda. Até ao dia, que o verdadeiro sonho de ambos se tornou real – o palco.
Aquele abraço na subida e no desejo de sorte, desenrolou-se no beijo mais especial de todos os tempos e, naquele momento e em todos os outros, em que a mudança foi a vitória da minha vida, eu agradeci ter partido, ter quebrado a minha tristeza, fugindo da rotina. Embora fugir nunca seja a solução, para mim foi a mudança. Hoje sou alguém bem resolvida com a minha pessoa, com quem sou, como o meu passado. E o meu presente? Com ele é especial, com a minha profissão, com o que somos, com o que temos – o mundo nas nossas mãos – e os seus dois dialetos universais – o amor e a música.

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(fotografia do filme "Walk the line")

28
Set16

[Completas-me] com Vânia de "A duquesa e o gato"

Carolina Cruz

Hoje trago-vos mais um "completas-me"! Confessem lá, já tinham saudades, não já? Também eu! 
Quem nos presenteia com um texto romântico e muito bonito é a nossa querida e simpática Vânia, do blog "A duquesa e o gato" quem consegue resistir a este fantástico blog? E hoje... às suas palavras? Espero que gostem! Aqui vai:

 

"Maria tinha 20 anos. Dona de uns belos e longos cabelos negros e de uns olhos cor de mel. Era tímida mas ao mesmo tempo adorava conhecer pessoas e locais. Tinha saído de uma relação conturbada e quis refugiar-se nos amigos. 
Numa das saídas à noite com o seu grupo, Maria conheceu-o.
Cláudio era moreno, com olhos verdes e lábios finos. Sorria com os olhos e isso encantava-a. 
Foi nessa mesma noite que ele, timidamente, por debaixo da mesa, lhe deu a mão. Trocaram o primeiro beijo quando se despediram nessa mesma noite quente de Primavera.  Maria sentiu pela primeira vez o que realmente eram as ''borboletas na barriga''. Estava apaixonada!
A partir desse dia, Maria e Cláudio nunca mais se largaram... Todos os dias eram diferentes, todos os dias ele a surpreendia. Viveram um conto de fadas durante um ano até que, sem qualquer aviso, Maria recebe uma mensagem de Cláudio. Ele acabara com a relação, dizendo estar apaixonado por outra.
Maria ficou devastada. Soube mais tarde, por amigos, que o seu pai o proibira de namorar com ela por não ser rica.
Durante anos sempre pensou que um dia receberia a sua visita em casa a pedir-lhe perdão ou uma simples mensagem. Tal não aconteceu e Maria decidiu que precisava de seguir em frente. 
Passaram 10 anos e ambos tinham seguido as suas vidas. Encontraram-se numa saída à noite, num bar com karaoke. Os seus olhos cor de mel cruzaram-se mais uma vez com os seus olhos verdes…"

 

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Maria queria correr até ele, era o que dizia o seu coração que há 10 anos não queria mais ninguém, aquela relação marcara-a para sempre, como era possível esquecer?
Era verdade que os seus olhos se tinham cruzado com a mesma intensidade de outrora, que espelhavam o mesmo amor, ou o mesmo encanto que conheceram da primeira vez que se cruzaram.
No entanto, Maria era orgulhosa, Cláudio teimoso. Ela estava mais bonita que há dez anos, os anos pareciam não passar por ela, ele estava calvo, mas igualmente sensual.
Caramba, seria assim tão difícil deixar que o destino acontecesse, agora que ambos não tinham ninguém que condenasse o seu destino?
Alguém tinha de dar o braço a torcer, amores como este, verdadeiro, como o deles, acontecia uma vez na vida, porque é que tinha de ser imperfeito ou impossível?
Maria saiu do bar, lavada em lágrimas, não era assim tão forte para aguentar tal encontro cruzado.
Limpava o rosto, quando começou a tocar “Home” de Simply Red, a música que os ligava a cada segundo de melodia, todos os minutos que viveram pareciam eternos, até mesmo nos anos que viveram afastados. Cláudio queria, naquele segundo, recuperar um por um:

 

“Maria, eu sei que andas por aí. Por favor ouve-me.”

 

Era a sua voz, não mudara nem um timbre que fosse. Maria correra para dentro do bar, como que num ato de desespero.
Os seus olhos voltaram a cruzar-se e tantos segredos queriam contar um ao outro. Ele continuou, sem qualquer receio na voz:

 

“Sei que nenhum louco no seu mais perfeito momento de delírio o faria, mas eu vou fazê-lo, antes que seja tarde demais. Levei dez anos a tentar esquecer-te, não consegui, era o tempo a dizer que o destino ainda faria cruzar nossos caminhos, e eu não posso deixar que nos voltemos a afastar.

Casa comigo. Não aceito um não.”

 

Maria petrificou, chorou como quem abraça o tempo e o abraçou-o como se conhecesse o infinito, o amor não morreu, o amor verdadeiro sempre vence. Hoje, Maria e Cláudio ainda permanecem juntos. Eu acredito no amor para sempre. Eles também.

07
Set16

[Completas-me] Com Miguel Alexandre Pereira

Carolina Cruz

Bom dia, meus sorrisos! 
Hoje venho apresentar-vos um texto diferente, feito a duas mãos. Hoje quem partilha comigo a escrita é o famoso e talentoso Miguel Alexandre Pereira do blog "Um mar de recordações". 
Ele desafiou a minha escrita e espero estar à sua altura! Vamos lá, espero que gostem:

 

 

 

"Hoje era a grande noite, o calendário marcava o nosso terceiro aniversário de namoro. Esperava ansiosamente pelo grande momento! Até porque desde há uns dias para cá o Paulo estava a agir de forma misteriosa perante a proximidade desta data, prometendo-me uma surpresa inesquecível. Apesar de curiosa, fiquei admirada por ele escolher o restaurante do costume, pensei que ele me fosse levar a algum lugar especial…
Apesar de começar a ficar atrasada, ainda não estou completamente preparada para sair. Demoro algum tempo a calçar os saltos que ele tanto gosta. Na verdade, quero fazê-lo esperar propositadamente. Confesso que adoro este tipo de jogos de provocação, fazem parte de mim. Olho-me ao espelho demoradamente, um enorme sorriso nasce nos meus lábios carnudos. Escolhi usar um vestido preto que destacava o meu corpo definido e os meus cabelos loiros.  Sentia que estava ao meu melhor nível!
Apenas faltava o último pormenor. Coloquei o colar que ele me tinha oferecido no primeiro aniversário. Estava pronta! Contudo, momentos antes de sair de casa, recebo uma mensagem do Paulo. Nela apenas estavam escritas umas coordenadas em GPS, acompanhadas de uma curta mensagem – Maria, estou aqui. “Bem, suponho que ele queira ir a um sítio antes do jantar”, pensei alto, sem dar grande importância ao seu conteúdo.
Rapidamente avancei para o meu Renault Clio cinza. Meti o carro a trabalhar e fui nessa direção, não iria demorar muito tempo. O local ficava apenas a cinco minutos de distância. Quando parei a viatura deparo-me com uma enorme moradia. Avanço num passo nervoso e toco à campainha daquela casa. Sem saber, tinha começado a noite mais selvagem da minha vida…"

 

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Na grande moradia abandonada, vários quartos e divisões sem mobília estavam decorados com velas.
O primeiro quarto tinha um banquete onde várias frutas tropicais estavam envoltas de chocolate e pimenta e além da sobremesa, ele tinha encomendado sushi, que estava servido em pequenas travessas pela grande tenda montada no chão.
Tremi. Todo o meu corpo vibrou. Ainda estava sozinha, ele ainda não tinha chegado. No entanto, precisava urgentemente que ele viesse. Queria dizer-lhe que todas as nossas discussões que sempre tivemos não faziam qualquer sentido, o meu corpo necessitava dizer-lho sem que palavras fossem precisas.
Este mistério deixava-me ainda mais ansiosa. Onde estaria ele? Decidi então subir ao piso de cima quando sinto uma mão prender-me os braços e vendar-me os olhos. 
A sua voz sedutora e misteriosa dizia para me deixar levar, o que fez o meu corpo explodir de desejo.
Deixei-me então levar, uma boa forma de dizer que o amava.
Levou-me até ao jardim, igualmente abandonado. Sentou-me numa cadeira. Despiu-me o vestido, deixando-me com a lingerie que tinha escolhido para a ocasião.
O meu corpo começava a ceder ao prazer.
Despiu-me por completo. Um pequeno gel doce parecia queimar-me o corpo enquanto me arrepiava por completo. Ele acompanhava-o com a boca e as mãos, que me beijavam continuamente, sob o meu corpo, sem que eu pudesse retribuir.
Embora eu sentisse que todos estes anos tivessem sido um pouco instáveis, com algumas separações e desavenças, eram estes momentos que faziam com me perdesse por completo e me deixasse rendida mesmo a todos os seus defeitos.
Quando me soltou as mãos, o desejo em mim transbordara e então eu prometera a mim mesma e a ele, em segredo, que mais ninguém, nem nós mesmos, nem nada, nos iria separar.
E o sushi e os frutos ficaram para segundo plano pois o mais profundo desta vida é saber como se ama, é sentir prazer por se amar.

24
Ago16

[Completas-me] com Andreia de "O meu poema"

Carolina Cruz

E lá vamos nós, para uma viagem a duas mãos, as minhas e as talentosas mãos de escrita da Andreia, do fantástico blog "O meu poema"
Espero que gostem tanto, quanto eu gostei desta partilha. 

 

“Encosta a porta.
Deixa que o vento te sussurre ao ouvido, enquanto gemem, em rebuliço, os cravos cor de sangue imortal. Deixa que o tempo leve de arrastão as lembranças que entrelaçaram os nossos caminhos. Deixa que o adormecer da madrugada te traga o silêncio de um lampião à escuta, a fuga das estrelas, o sentido das palavras feitas nas entrelinhas.
Lê, uma vez mais, as cartas que eu nunca te escrevi, os beijos quentes de outono, os passeios longos, as conversas banais…
Guarda em ti o nosso pretérito mais que perfeito, onde cabiam todos os sonhos do mundo, uma vida inteira sem último dia, um lugar sem pressa, sem futuro, sem questões.
Depois, quando a estação mudar, não penses mais!
Rasga os versos que escreveste e atira para o mar. Rasga a pele que há em ti e rompe a saudade mordaz que te prende, que te amarra, que te queima, que te destrói.
Denuncia-te!
Levanta os teus sonhos, ao nível dos olhos, e arrasta a poeira de cada calafrio. Levanta-te sem que destruas a história que te deixou ver o amor sem pernas e sem braços, sem dias a mais ou filas de espera. Esvazia o tempo em contrarrelógio, porque houve um dia em que contruímos o nosso castelo na areia, enquanto se deixavam bater, pelas ondas, as memórias de um refúgio antigo, de um desejo secreto, de uma mágoa apagada.
Por agora, agarra bem a almofada. Prende-te à humidade das lágrimas salgadas que irrompem do escuro, do relento de uma alma sem destino, de um ritmo descompassado, de uma angústia em tempo morto, onde a única certeza…”

 

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...é inutil. Cerca-te de uma coisa, de um pensamento que te encaminha à realidade: ele não voltará, como não volta a revolução de Abril. Tal como a história de outrora, ele apenas mora no teu pensamento, em cada recordação tua, do teu passado. Deixa que alguém mais tarde ocupe o seu lugar, ele será apenas uma lágrima, um pedaço de sangue que não te merecerá jamais.

Viveres nessa amargura, é só idiotice tua, não escarneças a tua pessoa. Vive. Abandona todas as dúvidas e segue o teu sonho, aquele que ninguém vivenciará por ti, tu és dona disso, da tua certeza, da tua vida, não deixes que ninguém diga para onde vais, se não é esse o teu caminho. Conta as horas, vive cada segundo e mostra o mundo que não és as muralhas desse castelo mas a rainha que ficou na história não por morrer pelo amado, mas por ser a primeira a vencer a mais terrível das batalhas.

 

10
Ago16

[Completas-me ] com Andreia Morais

Carolina Cruz

Hoje abri as gavetas da casa encantada da Andreia e consegui (estou muito contente por isso!) que ela partilhasse connosco as suas palavras (mais uma vez fantásticas!), vamos lá lê-las:

 

«Quando entrei desesperada pelo quarto do hospital, guiada pelo barulho das máquinas, senti um baque forte no peito, como se me estivessem a arrancar o coração a frio. Senti o meu corpo a gelar, as pernas a ceder de nervos e as lágrimas a inundarem-me o rosto. O teu coração parara de bater, de vez, apesar de tantas vezes ter pedido para que não o permitisses, e a linha presente na máquina que se encontrava ao pé da tua cama era contínua e fazia um barulho insuportável, que me arrancava mais um pedaço de mim.
Morri por dentro como tu acabaras de morrer, mas a grande diferença é que eu ainda estava de pé e saudável, só precisava de recuperar do choque, já tu acabavas de partir para um lugar de onde não sei morada para te escrever, de onde não terei noticias tuas e onde não te poderei ir visitar, pelo menos por agora. Só me resta esperar que te transformes numa pequena e brilhante estrela, que te posiciones no céu em frente à minha casa e que olhes por mim, pois eu cuidarei de ti da única forma que ainda consigo: amando-te para sempre!

No último ano, a minha vida foi uma autêntica correria…»

 

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Tornei-me na mulher que eu sei que terás todo o orgulho. Fui atrás de todos os sonhos que ficaram pendurados desde que adoeceste. Escrevi sobre ti, falei sobre nós. Dei cor às palavras dos teus momentos mais cinzentos, dei sorrisos à tua dor e uma mensagem especial dando outro sentido a tudo o que acontecera contigo.
Dei a volta ao mundo, para dar esperança a todas as crianças que também perderam a coragem de viver, tu foste forte até ao fim do teu fim, até a cada segundo dessa tua breve vida.
Quero que o meu filho viva no coração de cada mãe que ajudo, de cada jovem que dou esperança. Eu posso não te ter aqui, mas trago-te sempre no meu regaço, onde escrevo o teu amor no meu peito. Sempre foste meu, sempre serás. Não morreste, morremos, mas ainda sobrevivo, com esta força que arranjei para respirar.
Se pudesse morreria contigo, em vez de ti, mas hoje sei que não é possível fazê-lo, que Deus quis tornar-te num anjo e eu o teu mensageiro.
Amo-te, na doçura de um abraço eterno, meu amor maior.

27
Jul16

[Completas-me] com Daniela Barreira

Carolina Cruz

Hoje vamos brindar à menina dos abraços, a nossa querida Daniela, que é um ser humano extraordinário, que nos escreveu este texto para eu completar... espero que gostem do resultado!

 

“Tu não és a minha pessoa. por mais que eu deixe os teus olhos pousarem em mim, em tudo o que sou, por fora e por dentro. por mais que eu me deixe olhar por ti e te olhe também, em segredo. tu não és a minha pessoa. por mais que eu deixe as tuas mãos percorrerem-me os sentidos num arrepio. por mais que eu me deixe ser puxada para ti e te puxe também, em segredo. tu não és a minha pessoa. por mais que eu deixe os teus braços resgatar-me inteira, sem volta a dar. por mais que eu me deixe abraçar até à alma e te abrace assim também, em segredo. tu não és a minha pessoa. por mais que eu deixe a tua respiração tatuar-se em mim. por mais que eu me deixe saber a ti e te deixe saber a mim também, em segredo. tu não és a minha pessoa. por mais que eu deixe que me entres no coração. por mais que eu me deixe invadir por ti e te invada também, em segredo. tu não és a minha pessoa. por mais que, um dia, possas querer fazer-me sentir que o és. mesmo sem querer. tu não és a minha pessoa. é que, por mais que os teus olhos me descubram, as tuas mãos me puxem, os teus braços me resgatem, a tua respiração me viva e tu me invadas o coração, tu não sabes que há pedacinhos do meu coração que tu (já) não vais encontrar."

Daniela Barreira.jpg

Porque, na verdade, tu ocupaste um buraquinho que não está totalmente curado, o meu coração ainda não está completo, creio que a partir do momento em que vi morrer meu amor, desde a hora exata da sua última respiração eu não serei mais a mesma, não amarei mais, nem tanto, nem igual ao amor de outrora. Não te pertencerei realmente, não me pertencerás totalmente.
Quero dizer-to. Não quero mentir-te, nem omitir-to. Desculpa, mas ele levou o verdadeiro sentido da lealdade quando partiu, quando falo em ser leal falo em amar por inteiro. Eu já não sei amar-te assim. Não sei, lamento.
Gosto de ti, e muito! De todo o carinho que me dás, da atenção que me dás, do beijo na testa, quando perguntas se está tudo bem, se correu bem o dia.
Peço-te que compreendas, que não és a minha pessoa, que ele foi e o meu coração não deixa que mais alguém o volte a ser. Só a ele pertencerá por completo.
Lamento.

13
Jul16

# Completas-me 7 - com Daniela Marinho

Carolina Cruz

Vamos a mais um texto a duas mãos, especial, bonito que me fez procurar a criatividade ao máximo, como a Daniela faz em todos os seus textos e fotografias, ainda não conhecem? Então visitem "Um dia depois do ano passado" e leiam a nossa história.

 

"Ser gargalhada quando um só sorriso não basta. Ser coragem quando só a vontade não chega. Ser o ir quando o partir se aproxima. Ser o pedaço quando o inteiro é pouco. Ser o vazio porque o copo transborda. Ser a liberdade que nem o espaço permite. Ser o pouco que o "tampouco" não alcança. A espera que não desespera. O futuro que não se atormenta do passado. A casa que habita no miocárdio e aconchega cada ser que faz ter o tempo a seus pés."

Daniela Marinho.jpg

 

E eu tenho o mundo a teus pés.
Não posso mais, eu não aguento, não posso viver sem ti. Estou cansada de mentir, para mim, para ti, de omitir para os outros, de te querer, sabendo que quero e que me queres. E eu sei que quero um compromisso, que te quero para mim, assumi-lo com todos os detalhes, porque se nasceu amor não é vergonha, é certeza, acontece.
Sei que não queres essa vida que levas, que essa relação já não é para ti, que ela te magoa sob a sua perpétua indiferença e te transporta para o mais cruel dos submundos nesses ciúmes que te aprisiona.
Isso não é amor, e ela não sabe pertencer-te, acha que essas atitudes te fazem só dela, mas eu sei que te afastam e que esse amor morreu no teu coração, pois é a mim que ele pertence.
Por favor, avança, não fiques nesse impasse, mostra que tenho razão, mostra que queres ser meu. E peço-te, fica. Para sempre.

08
Jul16

[Completas-me] Com o Principezinho

Carolina Cruz

Olá meus queridos! Hoje trago-vos o nosso querido e romântico Principezinho para nos trazer uma história sobre os valores morais e materiais, que na minha opinião são os primeiros que realmente merecem a nossa atenção. 
Se concordam, vou adorar o texto feito por nós os dois:

 

"Tiago não dormiu em toda a noite. No dia seguinte era o aniversário do grande amor da vida dele. Tinham-se passado já 10 anos desde que tudo terminou entre os dois mas ele continuava a sentir Sofia bem perto dele. 
Ela continuava no seu coração. Viva e bem real. Todos os dias pensava nela. Acompanhava pela imprensa todos os passos que ela dava. Escrevia-lhe todas as noites num diário. Um diário cheio de cartas de amor que provavelmente ela nunca chegaria a ler, pensava ele.
Viveram uma paixão louca e desmedida. Eram um só. Ela costumava dizer-lhe: “aconteça o que acontecer, o nosso amor é eterno e nunca morrerá”. Dizia-o com aqueles brilhantes olhos castanhos que ele tanto amava. Viviam um para o outro. Partilhavam tudo. Compreendiam-se e entendiam-se como ninguém. Eram felizes os dois e nada mais importava. 
Mas, um dia, a vida que os juntou, também os separou. Ele nunca mais se esqueceu daquele Verão que ela foi passar ao Mónaco com uma amiga. Quando voltou, Sofia veio diferente. Para ela, o amor que Tiago lhe dedicava já não lhe bastava. Ela queria uma mansão com piscina, um carro descapotável, um iate e um marido rico que a amasse. Tudo o que Tiago não tinha, nem era. Tiago apenas tinha amor para lhe dar. Nada mais. 
- Tiago, vou viver para o Mónaco.  – Dissera-lhe Sofia com o coração apertado.
- Para o Mónaco? Gostaste mesmo das férias, não foi, paixão? Mas tu és a pessoa mais importante para mim. Amo Portugal, mas vou contigo. Nunca te deixarei sozinha.
- Não estás a perceber Tiago…eu amo-te…mas nesta altura preciso de mais…preciso de coisas que tu não me podes dar.
As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Tiago. Mas ele não conseguia desistir do amor da sua vida.
- O que precisas Sofia? Eu dou-te tudo o que tu quiseres. Eu amo-te. Como nunca amei ninguém em toda a minha vida. E sei como te fazer verdadeiramente feliz. 
- Tiago…esquece-me…esquece-nos…guarda o nosso amor num lugar bem especial no teu coração e tenta ser feliz. Eu vou fazer o mesmo. 
Ela partiu para o Mónaco, casou com um homem rico e famoso e nunca mais se viram nem contactaram. 
Passados todos estes anos, ele nunca a esqueceu. Nessa manhã, cansado de andar às voltas na cama, saiu cedo para ir ao café. Ao passar pelo quiosque reparou numa fotografia de família de Sofia numa revista. Pegou na revista e comprou-a. 
Enquanto tomava café não tirou os olhos daquelas fotografias. Sofia sorria e parecia feliz. Mas aquele não era o sorriso que ele conhecia. Havia nele algo de artificial. O seu olhar já não tinha aquele brilho inconfundível de quem está verdadeiramente feliz e apaixonado. Tiago conhecia Sofia como a palma da sua mão e desejou profundamente estar enganado. Amava-a incondicionalmente e desejava que ela fosse verdadeira e profundamente feliz, com ele ou sem ele. 
Mais abaixo leu que na próxima semana Sofia e o marido iriam passar a próxima semana de férias em Lisboa. Tão perto e tão longe um do outro. O coração de Tiago encheu-se de uma emoção muito forte. Não sabia o que fazer nem o que pensar..."

 

principezinho.pngTiago era humilde, sempre fora, o que em tempos atraíra Sofia, hoje enjoava-a. Tinha-se tornado rica e repugnante.
Ele estava a trabalhar num restaurante muito requintado na baixa de Lisboa, era como há muito não tinha sido bem pago, ou pelo menos mais do que outrora.
O seu coração acelerou quando a viu entrar com a sua família, o mesmo olhar permanecia, o corpo que tanto desejara não mudara com os anos, já o feitio e a formação deixaram Tiago em baixo, fazendo-o acreditar que a partir daquele dia ele a iria esquecer para sempre, ela não merecia que ele pensasse demais e ele merecia ser feliz.
Nesse dia, em que se reencontraram, ele soube que ela o tinha reconhecido, ele estava na mesma, mas estava também invisível aos seus olhos que só de mania se pintavam.
As lágrimas molhavam-lhe os olhos.
- Sofia. – Disse inocentemente, tentando cumprimenta-la.
- Bom dia, já escolhemos. – O seu sorriso era cínico, se ela não estava feliz, também não queria mudar ou então era muito boa atriz.
Tiago paralisou, mas não se rebaixou, já tinha sofrido demais por ela. Já bastava.
- Sim, senhora. Um momento.
No final do almoço, nem uma palavra lhe disse, nem uma mensagem após o reconhecer.
No entanto depois de alguns anos, quando Tiago tinha já a sua vida completa e refeita, onde nos olhos de Alice completara os pedaços destruídos do seu coração, recebeu uma mensagem de Sofia. Há muito que não procurava saber dela, evitava ler as revistas ou conhecer notícias sobre si, mas aquela tinha chegado até ele sem pedir.

 

“Querido Tiago, perdoa-me tudo o que fui para ti, melhor dizer tudo o que não fui.
O meu marido traiu-me e hoje vivo numa casa com os meus filhos, mas um vazio completa-me, não foi isto que eu sonhei, não é isto que quero.
Perdoa-me”

 

Tiago leu a mensagem calmamente e naquele momento era ele quem sorria de forma irónica.
- Que foi querido? – Perguntou Alice.
- Nada meu amor. – Disse dando-lhe um beijo na testa.

O amor vive-se nas mais pequenas coisas. O gesto mais pequenino é aquele que ao ser grande bate no peito com força, que nos marca. Não são as coisas que se podem comprar que nos trazem a felicidade. A verdade é que “quem tudo quer, tudo perde”, Sofia não perdeu tudo, mas perdeu o essencial, aquilo que para si poderia ter sido tudo: o amor verdadeiro.

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