As asas que me fazem voar (3)
- Gosto muito do seu trabalho – consegui por fim dizer.
- Obrigado. – disse ele, de forma descontraída.
Guida, uma das amigas que me acompanhava quis tirar uma fotografia.
- Anda! – disse ela.
Eu recusei, timidamente, e ele puxou simpaticamente para a fotografia.
- Anda daí!
E tirámos.
Eu não me preocupava muito em tirar fotografias, nunca fui muito disso, acho que as boas memórias ficam sempre gravadas na nossa memória. Parece que, com as fotografias, somos constantemente obrigados a lembrar esses momentos sem um menor esforço. Além disso, eu gostava do seu trabalho, não do seu aspeto ou beleza, que na verdade, chamava a atenção.
Apetecia-me apenas estar ali, não para o ver simplesmente, mas poder absorver um pouco do seu talento, da felicidade que ele transmitia no amor que tinha pela música.
Fiz-lhe algumas perguntas sobre música e reparei que, notoriamente, ele estava a sentir-se apelado à conversa. Falava com um sorriso grande nos lábios e parecia que a fila interminável de fãs podia esperar. Mas, infelizmente, não podia. E fiquei com vontade de voltar e ele de me presenciar de novo para aqueles assuntos em nada fúteis que raramente recebia.
Sorriu de novo e disse-me – Gostei muito. Quero voltar a ver-te!
Eu sorri, envergonhada, e notei no rosto das restantes raparigas da fila que quase me podiam comer viva de inveja, mas porquê? O que havia de tanto alarido na sua pessoa? Que além de fazer o seu trabalho, é uma pessoa normal? Que erra, sorri, sente, chora, murmura e também sonha?
Eu conseguia vê-lo com a sua alma completa e foi isso que me destacou.
Dias mais tarde voltamo-nos a ver.
(continua...)