[Completas-me] com Cátia Madeira
Hoje temos a querida Cátia, do blog "Em busca da felicidade" com um texto a duas mãos que é tudo menos feliz, no entanto, acredito que vos vai apegar do início ao fim. Espero que gostem tanto, como eu gostei desta parceria!
"As lágrimas que caem no meu rosto seguem o compasso das ondas que batem fortes na areia da praia. O som que me acalma os pensamentos. O coração. Os sentimentos. Tento acertar o bater do meu coração mas está descontrolado.
A mala a meu lado. Dois tarecos e meio. A saudade cá dentro. O medo de perder quando sei que fui eu que fugi.
Não queria ter virado costas. Pediste que ficasse. Que tudo se resolvia.
Resolvia?
- Às vezes parece que já não nos conhecemos.
- Mas como, se ninguém me conhece melhor que tu?
Como? Se nem eu me conheço como tu sabes o que sou? Como posso achar que já não nos conhecemos.
A minha cabeça. As minha dúvidas. A minha procura pela perfeição.
Não sei se te faço bem. Se sou o melhor para ti.
- És quem eu quero. Deixa-me ser eu a escolher.
Escolhi por ti. Bati a porta e saí.
O caminho não sei como o fiz e dei comigo em frente ao mar. Aquele que me lava a alma. Aquele com que acerto as batidas do meu coração. Aquele que espelha as lágrimas que trago no rosto. Dois mares salgados frente a frente. Um puro, outro ensombrado pela dor de quem escolheu da pior forma. De quem quer voltar atrás mas não tem coragem para isso.
Escolheste vir embora. Agora não podes voltar sem mais nem menos.
A minha mente comanda. O meu coração obedece.
Sinto passos atrás de mim. Como quero que sejas tu. Como quero que me abraces e me digas que tudo vai ficar bem. Que me amas mesmo louca. Que me envolvas nos teus braços. Ponhas o teu casaco sobre os meus ombros e pegues na minha mala.
- Vamos para casa. – dizias – para nossa casa.
E eu ia contigo.
Se me conheces como sei que sabes quem sou, encontras-me aqui. Neste espaço que me acalma as batidas do coração."
Mas não, não eras tu. Nunca serás tu, depois de toda a desilusão que prendi em ti, nunca serei eu de volta ao teu coração. No entanto, no meu coração estarás sempre até ele deixar de bater. Apesar de tudo, amo-te. E o meu coração só deixará de te amar quando tudo terminar.
É isso, é isso mesmo. Quero que ele deixe de bater, já, agora.
As ondas estão revoltas, o mar está bravo, dispo a roupa, tal e qual como gostavas que me despisse para ti, ali estava o meu corpo nu a amar-te como uma louca, como se as ondas fossem a tua cama, como se o mar fosse o meu crematório.
Entrei a medo, a água gelada quebrou o meu corpo quente, naquele inverno frio. Não podia desistir, eu tinha sido fraca toda a vida, mas naquele momento tinha de ser forte, quebrar tudo, quebrar-me a mim. A louca não partira apenas da tua vida, mas do meu corpo também, partira para sempre.
O meu corpo começava a gelar, os meus pés não viam o fundo e eu via o meu fim à vista, estava a conseguir.
Estava prestes a perder os sentidos, quando ouvi uma voz dentro de mim, eras tu, a tua voz doce, que me fazia recuar, mas já não conseguia, os meus olhos já se tinham fechado.
Eras mesmo tu e não uma voz dentro de mim, eras tu que me agarravas, e choravas, só a minha alma te podia ver, o meu corpo já não te podia tocar.
Chegaste tarde demais, e eu parti demasiado cedo. Não devia, desculpa. Hoje choro, mas não serve de nada. Será que se arrependimento matasse, eu voltaria a viver?
Por vezes não entendemos que os nossos atos magoam os outros. Eu marquei-te e magoei-te para a vida toda, deixando partir a minha.
Sei que esse teu corpo é só apenas uma miragem, porque também desejas partir nesse mar, mas pensa em mim, e sempre que quiseres, se isso te liberta, vem lembrar-me, encontra-me aqui, talvez um dia quando houver pozinhos mágicos, eu possa voltar.