13
Out17
[Ficção] Sem fim
Carolina Cruz
Estou aqui. Vens receber-me?
Estou aqui, meu amor.
Estou de volta, ao refúgio da nossa memória.
Vamos aproveitar o tempo perdido.
Desculpa, meu amor, estou aqui.
Consigo lembrar-me de quem és, de quem somos. Por momentos, esta maldita doença não me consome, consigo recordar-me de quem sou.
Vamos aproveitar que estou viva, é tão bom estar na minha pele, sentir-me, sentir-te, sem que sejas um estranho para mim.
Vem, que o agora é o maior presente que temos.
Vem, meu amor. Que eu não conheço o amanhã.
Vem, meu amor.
Vem, que eu estou aqui,
Sou eu, ainda te amo como o passado que não consigo recordar mas onde regresso tantas vezes.
Amo-te, ainda que o tempo se esgote, amo-te ainda que o Alzheimer me desfaça em mil pedaços do que não sou.
Amo-te, sempre, ainda que não me recorde disso, todos os dias da minha vida.
Amo-te, pelo amor maior que tens por mim.
Amo-te, por tudo.
Amo-te, sem fim.
Até ao fim.