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Gesto, Olhar e Sorriso

Palavras que têm vida.

11
Jun18

[Ficção] Sonhar-te

Carolina Cruz

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Feriste o meu peito. 
Fizeste um rasgo, de um lado ao outro, que não estanca, que não para de sangrar.
Há coisas que nem o tempo consegue curar. 
Vem-me à memória todas aquelas frases bonitas que dizias e todo o calor do teu corpo sobre o meu, palavras fantásticas, esperançosas e momentos eternos que não passaram de uma mentira. 
Hoje ainda me lembro de nós, hoje ainda queria viver-nos, viver essa mentira, porque o conforto da tua pele, o cheiro de todas as coisas, valia a pena, mesmo que fosse um sonho onde sabia que acordaria, um sonho que antecedia a um pesadelo.
Agora dorme comigo a saudade, acorda comigo a ansiedade de ter de passar mais um dia, sem ti. 
Não podias demorar mais um pouco? Não podias colar um pouco desta amargura que me invade? 
Só te quero a ti, por mais que doa. Só te quero a ti no meu abraço, por mais que tudo pese. Só tu consegues fechar este buraco no meu peito e só tu conseguirias curar o que o tempo não cura.
Vens? Eu sei que não. 
Por isso, ficarei aqui, a sonhar-te.

 

 
09
Mai18

[Ficção] Sem ti.

Carolina Cruz

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Estou cansada, esgotada, amedrontada, ansiosa.
Fervilho, fervo em pouca água, rebento, choro.
Há tempestade no meu corpo, há tensão, há dor por antecipação, há morte.
Sinto o meu corpo a desfalecer, sinto um cansaço extremo, uma dor no peito, um aperto que transborda de amargura.
Não aguento mais, preciso de um sítio seguro, de um porto de abrigo, de conforto, sensatez, tranquilidade.
Porém eu sei que o espaço onde eu queria estar, o lugar que eu queria habitar era nos teus braços, dentro do teu peito, no calor do teu corpo, nas entranhas do teu coração.
Mas eu também sei que é isso que me desgasta, que me cobre com uma mágoa tremenda que quase me mata. E é isso que me mata realmente, é por isso que o meu corpo anda cansado – saber que te amo e saber igualmente que já não me amas de volta! Porquê? Porque é que estava escrito? Porque é que esta dor não podia ser carregada por outro peito? Apetece-me morrer já do que abandonar o meu corpo aos poucos, tudo seria mais tranquilo, menos doloroso, mas fazer o quê se a minha ambiguidade me diz que, apesar de tudo, eu gosto de viver? Tenho apenas de aprender a viver sem ti, mas não sei se consigo, na verdade ainda nem sequer tentei.
Vou tentar, acredita. Mas se não conseguir ficará gravado na minha pele que tentei lutar sem ti e se o meu corpo se perder e a minha alma te olhar por aí, poderás dizer também que nunca desisti dos meus sonhos e que, na verdade, talvez tenha nascido para te amar e pela mesma razão tenha morrido (por ti).

14
Nov17

[Ficção] Desapego

Carolina Cruz

 

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Permito, finalmente, ao meu corpo, libertar-me de ti. A mente, a pele, o coração, o olhar, tudo em mim se esqueceu de ti e é tão bom.
Não há nada melhor que sentir esta (tua) ausência sem dor. 
Já não sinto a necessidade de saber como estás, com quem andas, se já me esqueceste, se tens outro alguém.
Olho para ti e não passas de um mero conhecido. 
É tão bom este desapego. Esta porta que se abre. Esta liberdade que sinto em já não sentir rigorosamente nada mais por ti, nem um pingo de raiva.
Sou livre, estou livre para amar, não me mudaste nem um bocado. Não tenho medo do amor, não tenho medo de me entregar. Sei ser, sei estar e sei que, algures e algum dia, alguém estará de coração aberto para me viver e me sentir, por inteiro.

14
Set17

[Ficção] Dói.

Carolina Cruz

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Dói-me o corpo todo.
Dói-me olhar-te e não ver mais nada se não o espelho da minha falta de dignidade, do meu rancor, da minha frustração, do meu medo, do meu pesadelo.
Bebo mais um golo de whisky, misturo-lhe vodka pura, que explosão louca, mas não maior que aquela que provocas no meu coração e consequentemente na minha alma, por ferires o meu corpo.
Bato a porta, mas não sei para onde vou, volto a entrar, já nem consigo tomar conta de mim, o que tu fazes tão bem, dizes tu de uma forma tão imperativa.
Controlas este meu corpo como sendo inteiramente teu, magoas, violas, torturas, este corpo que já está mais morto que propriamente vivo, enquanto se mantém nos teus braços.
Assim não quero mais permanecer, eu que não tenho mais confiança em mim, eu que não acredito que sou capaz, que melhores dias virão e que te venham buscar.
Mesmo que o viessem, mesmo que te levassem da minha vida, eu não seria mais a mesma, não conseguiria voltar a ser eu mesma, a mulher linda e confiante de cabelos ruivos que amava tanto a loucura, mesmo sendo sensata.
Agora nada sou além de ti, sou um espelho do que não quero ser. Por isso, por não saber o que faço deste lado, por ter perdido o norte ou tendo morrido ainda que viva, termino com tudo o que dói e à vodka e ao whisky junto milhares de capsulas que me levam à loucura, à overdose e à sensação de alívio. Deixei tudo para encarares, deixei o meu corpo, a minha alma livre e jovem viaja agora para outro lugar.
Não sei se tomei a atitude certa, mas não há volta a dar.
Não sei se tomei a atitude certa, mas sinto-me melhor.
Morri, por tua culpa.
Morri, sem ti.
Morri triste, mas agora estou feliz, em paz.

02
Set17

O que somos após tudo terminar?

Carolina Cruz

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Somos lume aceso pronto a arder. 
Somos prato servido para ser pó e além da nossa alma que fica no coração dos outros, daqueles que nos amam, nada seremos após a nossa morte. 
Vimos ao mundo para ser, para ousar ser livre, no entanto há sempre algo que nos prende: a ansiedade, o medo, o tempo finito. 
Não há ninguém que não tema a morte, não existe, usamo-la como segurança dos nossos erros ou um escape para quando já não conseguimos viver com as consequências deles. 
Somos nada que é um tudo para alguém. Amamos, profundamente, loucamente, fazemos coisas impensáveis em busca de nos tornarmos eternos para alguém. 
Mas será essa eternidade executável? Verdadeira? Exata? 
Será que não nos esquecerão quando nada restará se não as memórias, se não o tempo da nossa ausência?
Quem somos depois de partirmos? Qual é a definição do amor após só nos restar a alma? É a alma que ama ou o corpo por inteiro?
Há dias em que viver não me basta, por isso vou à procura de razões a perguntas que nunca serão respondidas... 
Nunca? Será? Eu não deixo de pensar, enquanto não tiver respostas! 
O que somos após tudo terminar?
 
 

 

02
Ago17

[Ficção] Corpo morto e só

Carolina Cruz

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Morreste-me nos braços.
Foi praticamente isso.
Foi exatamente isso que senti.

Fiquei sem ti, fiquei sem chão.
Quem sou eu sem ti? Onde estou? Como sou?
Vagueio-me e deixo-me fugir, andar somente por aí.
Partiste sem uma palavra, uma desculpa ou um perdão.
Eu não merecia isto.
Eu não merecia isto.
Não, repito, não merecia.


Dói-me o peito só de pensar.
Respirar era essencial, agora sinto que nem disso preciso.
Não preciso de nada sem ti, não quero mais nada.


Morreste-me.

Perdes-te, perdi-te, perdemo-nos.
Tudo fomos, nada somos, nada mais seremos.
Tu escolheste, tu partiste, tu foste sem mim.
Tu quiseste, tu viverás bem assim.
Mas então porque me falta o ar desta forma se não mereces?
Não entendo.
Não te entendo.
Não me entenderei nunca por te ter amado assim.
Morro sem nada, vivi com tudo, contigo.
Sou uma levre brisa que assenta no tempo,
Sou pó,
Corpo morto e só.

26
Jul17

[Ficção] Não existe amor maior

Carolina Cruz

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Vais, voltas. As vezes que entenderes. Somos instantes pequenos, formas desalinhadas de se viver uma paixão.
O amor não escolhe forma e nós decidimos amar à distância. 
Há formas de amar, sim. E não é por isso que se ama menos. 
Mesmo distante de ti, a cada encontro eu ainda te beijo como da primeira vez, ainda sinto o teu corpo quente como se fosse a ultima vez que nos tocamos. E tu vais, partes, e eu fico, remoída de saudade. Uma saudade boa, que nos mantém, que nos basta, porque eu sei… 
Vais, voltas… 
Não existe amor maior, não há nada que nos faça mudar, permanecemos unidos ainda que longe. E ainda que sejamos mais amigos que namorados, os namorados devem ser amigos, e somos… somos amores infindáveis, com uma cumplicidade desmedida. 
Se estivéssemos todas as vezes juntos, seria essa cumplicidade imensa? Ou é a saudade que nos alimenta e nos seduz? Nos liga ao prazer de cada momento?
Talvez não resultaríamos de outra maneira… Talvez… 
Não me interessa. Interessa-me quem somos quando estamos juntos.

 

 

 

16
Jul17

Com intensidade

Carolina Cruz

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Faremos no silêncio tudo aquilo que o corpo nos pede. Faremos desse silêncio o desejo inteiramente feito da nossa pele. 
Somos e fomos o pecado que quebrou todas as regras. 
Sejamos. 
O que é mais importante ser feliz ou aprisionarmos no que é dito pela sociedade ser bem feito ou com bom senso? 
Chega! A tua pele e a minha conspiram e respiram uma pela outra. Não existem uma sem a outra. Porque haveríamos de ficar longe? Porque haveríamos de lhe renegar o prazer? 
Não. Seremos corpo e alma, felizes. 
Seremos corpo e alma, unidos. 
O amor é o amor, ele pede paixão, desatino, insensatez, coração. Nada disso seremos se não quebrarmos as regras. 
O amor por si só quebra regras, desarma a imensidão. 
Não vale a pena parar o amor, controlá-lo. 
A melhor forma de o viver é sem medida, com intensidade.

 

 

13
Jul17

[Ficção] Na pele e no corpo

Carolina Cruz

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Por entre a multidão, naquele concerto, um ao outro, destacaram-se como que numa luz infinita. 
Quando se conheceram houve algo no olhar de ambos que prometera mutuamente: “hei de te conhecer melhor que ninguém, não vais largar mais a minha mão quando eu responder a esse ato de as entrelaçar, a minha na tua.”
Perfeito, dito e feito.
Tornaram-se unha com carne, amigos inseparáveis, não precisavam expressar palavras para falarem, o silêncio dizia tudo o que era preciso pois os sorrisos e os olhares eram mais especiais que todo o mundo à volta. 
Secretamente e timidamente amavam-se, mas nenhum deles conversava sobre isso, a ligação que tinham era forte demais para se perder. 
Corriam pela areia como crianças que confrontam o infinito correndo livremente pela rua. Nos entretantos, entre risos e brincadeiras o beijo aconteceu e das gargalhadas nasceram as lágrimas puras, porque ambos sorriram em silêncio, como neles era tão natural, coisa que só eles sabiam explicar, no entanto era algo que não precisavam de o fazer.
Irmãos de coração, melhores amigos, namorados se tornaram. O sabor cru e diferente de se amarem noutro prisma do amor trazia-lhe uma nova sabedoria, não tão díspar como a de outrora, mas era confuso, bom… 
Ele amava-a perdidamente, ela tornava-se sexy mesmo desarrumada, cheia de borbulhas ou apenas com a camisola dele vestida, mas quando se vestia para sair conseguia ser ainda mais a mulher mais bonita do mundo. Com todos os seus defeitos, feitio casmurro e teimoso, ele era o melhor namorado do mundo, nunca confiara tanto em alguém como nele, sentia-se protegida e amada nos seus abraços.
Como poderia tudo isto mudar? Quando o amor passou a ser demais, a não caber no peito, quando o medo de perder quem se ama agarrava-se à desconfiança. Tinham igualmente medo de se perder mutuamente, discutiam, discordavam, choravam e entrelaçavam-se em abraços, até ao dia em que perceberam que não podiam dar cabo de tudo aquilo que tinham, que a amizade inicial era mais forte que o que mais tarde crescera. 
Seguiram caminhos diferentes mas prometeram jamais criar distância entre eles, quem os amasse um dia mais tarde tinha de respeitar essa amizade que compreendia todo o amor existente na pele e no corpo. Talvez eles não soubessem que estavam destinados um ao outro, o medo de perder é o primeiro passo para a derrota, a vida sempre desvenda algo que está guardado para ser nosso. Por enquanto amavam-se nessa amizade de irmãos porque não é vergonha continuar a ser-se amigo de um ex-namorado, vergonha é apenas lembrar dos maus momentos quando se foi tão feliz.

08
Jul17

[Ficção] O meu corpo

Carolina Cruz

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O meu corpo sujo nas tuas mãos. 
Ou serão as tuas mãos sujas no meu corpo? Não tens direito... Não tens direito de me magoares assim, de achares que tenho de estar ciente e sabedora de que eu sou a culpada, que te provoquei, a estas horas, com a roupa que trazia vestida. O tanas. 
As tuas mãos sujas no meu corpo. Não tens o direito, não tens de ser portador do prazer se eu não o quero contigo. Só porque és homem? 
Essas mãos sujas não mandam em mim, esse olhar de "eu mando, tu obedeces" há de morrer, não comigo, contigo. 
As mil facas espetadas no meu coração, sentidas no meu corpo, são embaladas para outra alma, qual a tua...? 
Embora não a tenhas, essas facadas que te dou (agora que prometo matar-te para não morrer por ti) são as imensas dores que toda a vida me deste. 
A violência doméstica não é apenas bater. Há muitas formas de cuidar e muitas formas de dizer "quero que morras", mil formas de se ser maltratado, de sofrer violência. 
O meu corpo sujo, repudiado de ódio e rancor, não existe mais nas tuas mãos. Essas tuas mãos sujas morreram na ação, numa justiça feita pelas minhas mãos carregadas de medo, na busca de proteção, na busca de um futuro sem ti. 
Jamais morrerei por ti, por isso o meu amor-próprio defendeu-se, vi-te morrer nos meus braços e, então, o alívio da minha alma sorriu.
 
 

 

 

 

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