Lamento...
Trabalho todos os dias e lamento.
Há dias em que, como qualquer trabalhador, sou preguiçosa, há dias em que escolher ser e fazer o meu serviço é díficil.
Há pessoas que dizem que sou má, que sou vingança, mensagem de Deus ou do diabo, há quem me tema e viva a vida toda a temer-me, a sonhar comigo, a ter pesadelos, há também quem me chame e me implore para que eu faça o meu serviço, que lhes leve a alma e lhes deixe o corpo sem vida.
O meu nome é morte e eu sei que vivo ou morto, já ouviste falar de mim e, na pele ou na de quem amas, me conheces.
Todos os dias são uma correria e eu sou só uma alma e trabalho tanto.
Lamento que não gostem de mim, que seja injusta, que exista, mas desculpem dizer-vos que sem mim a vida não teria qualquer sentido.
Hoje levo comigo mais de cem pessoas no mundo, pessoas importantes, que foram importantes no mundo de alguém, com histórias para contar, com saudades e lágrimas.
Custa-me levar esta gente, mas dói também levar aquela criança que tinha tanto para viver, aquele inocente na guerra, o homem perdido de amores, que por amor se matou, quando ainda podia no futuro vivenciar outra grande paixão. Dói levar alguém que não deixa ninguém para se lembrar de si.
Ser a morte de que muitos falam não é fácil e eu lamento isso, faço chorar, por vezes desperto o ódio, a raiva e a vingança, mas desculpem é o meu ser e temam ou não, um dia irei conhecer-vos. Até lá, deixem-me dar-vos um conselho, pois eu nunca sei quando escolho chegar e enquanto eu não chegar, aproveitem! Vivam intensamente, sem me temerem. Vivam porque eu sou a morte e nunca soube, na verdade, viver inteiramente.