E lá vamos nós, para uma viagem a duas mãos, as minhas e as talentosas mãos de escrita da Andreia, do fantástico blog "O meu poema".
Espero que gostem tanto, quanto eu gostei desta partilha.
“Encosta a porta.
Deixa que o vento te sussurre ao ouvido, enquanto gemem, em rebuliço, os cravos cor de sangue imortal. Deixa que o tempo leve de arrastão as lembranças que entrelaçaram os nossos caminhos. Deixa que o adormecer da madrugada te traga o silêncio de um lampião à escuta, a fuga das estrelas, o sentido das palavras feitas nas entrelinhas.
Lê, uma vez mais, as cartas que eu nunca te escrevi, os beijos quentes de outono, os passeios longos, as conversas banais…
Guarda em ti o nosso pretérito mais que perfeito, onde cabiam todos os sonhos do mundo, uma vida inteira sem último dia, um lugar sem pressa, sem futuro, sem questões.
Depois, quando a estação mudar, não penses mais!
Rasga os versos que escreveste e atira para o mar. Rasga a pele que há em ti e rompe a saudade mordaz que te prende, que te amarra, que te queima, que te destrói.
Denuncia-te!
Levanta os teus sonhos, ao nível dos olhos, e arrasta a poeira de cada calafrio. Levanta-te sem que destruas a história que te deixou ver o amor sem pernas e sem braços, sem dias a mais ou filas de espera. Esvazia o tempo em contrarrelógio, porque houve um dia em que contruímos o nosso castelo na areia, enquanto se deixavam bater, pelas ondas, as memórias de um refúgio antigo, de um desejo secreto, de uma mágoa apagada.
Por agora, agarra bem a almofada. Prende-te à humidade das lágrimas salgadas que irrompem do escuro, do relento de uma alma sem destino, de um ritmo descompassado, de uma angústia em tempo morto, onde a única certeza…”
...é inutil. Cerca-te de uma coisa, de um pensamento que te encaminha à realidade: ele não voltará, como não volta a revolução de Abril. Tal como a história de outrora, ele apenas mora no teu pensamento, em cada recordação tua, do teu passado. Deixa que alguém mais tarde ocupe o seu lugar, ele será apenas uma lágrima, um pedaço de sangue que não te merecerá jamais.
Viveres nessa amargura, é só idiotice tua, não escarneças a tua pessoa. Vive. Abandona todas as dúvidas e segue o teu sonho, aquele que ninguém vivenciará por ti, tu és dona disso, da tua certeza, da tua vida, não deixes que ninguém diga para onde vais, se não é esse o teu caminho. Conta as horas, vive cada segundo e mostra o mundo que não és as muralhas desse castelo mas a rainha que ficou na história não por morrer pelo amado, mas por ser a primeira a vencer a mais terrível das batalhas.